Desabafo de um (ex) treinador!

12/05/2010 22:25

 

    Há pouco tempo atrás ouvi uma música da trupe do Teatro Mágico, música essa nomeada de "Sonho de uma flauta", nessa canção o poeta Fernando Anitelli introduz sua composição relatando sobre a busca incessante por sonhos, e mais especificamente sobre a busca pelo seu sonho, de criar um estilo musical e artístico diferenciado, e o que antes parecia mais um devaneio utópico acabou tornando-se uma realidade, a pequena e independente trupe fez seu barulho e revolucionou o cenário musical nacional, misturando música, teatro e circo em um espetáculo artístico único. Finalizando uma das mais simples e belas introduções que já ouvi, o vocalista afirma que na maioria das vezes nossos sonhos estão muito mais perto do que nós mesmos imaginamos, basta sabermos olhar para eles.

    Há exatos 8 meses eu assumia a condição de treinador do time de futsal feminino da LUVE, time que um mês depois se tornaria o LUVE/Via Campus Club Futsal Feminino. Naquele momento eu mirava diretamente no meu sonho, assim como a trupe de Anitelli eu também decidi fazer meu caminho, decidi percorrer uma estrada diferente da que comumente era trilhada, negando o mecanismo exacerbado dos sistemas de treinamento atuais, decidi apostar na conscientização, apostei na formação de um grupo entendedor da dinâmica do jogo e não na criação de atletas repetidoras de uma dinâmica de treino, em suma, decidi dar um voto de confiança para as pessoas e não para o sistema.

    As experiências vivenciadas nesses 8 meses foram as mais ricas possíveis... Como foi bom ser essa nota destoante em uma sintonia onde sempre se tocam as mesmas músicas, entretanto, a responsabilidade e os riscos que um trabalho assim pautado trazem consigo são gigantes. Quantas vezes eu sentia os olhares desconfiados frente à alegria contagiante dos treinos...

    Mas quem foi que disse que não se pode evoluir em um clima descontraído?!

    Quem foi que decretou que as sessões de treinamento deveriam ser massantes e sofridas para serem eficientes!?

    Carreguei comigo todo esse tempo o peso dessa escolha mais ousada, a cada derrota a minha dor era multiplicada, meus problemas com a derrota sempre foram muito evidentes, e a cada visita ela me olhava direto nos olhos com aquele ar debochado, quase me convencendo de que eu era mais um sonhador, que ao fim sairia frustrado com meus ideais, mas meu orgulho sempre me lembrava de tudo que tinha me levado até aquele ponto da história, me lembrava de tudo que eu ainda acreditava, e eu olhava de volta para a derrota e combinava nosso acerto de contas para o final. Sem deixar que aquela visita fosse em vão, eu retirava todas as lições que a senhora derrota me trazia, e talvez essa que sempre foi o maior problema da minha cabeça, tenha sido também a minha maior professora.... Como era sábia essa derrota...

    Muitos tropeços e inúmeras alegrias depois, chegara o ato final, o JIMI, minha última aparição com a batuta da de minha orquestra, a competição divisora de águas, onde tudo o que planejei estava a prova. Resumindo em poucas palavras, esse foi o momento em que o criador se apaixonou pela obra, onde me deliciei em ver todos os conceitos que plantei, serem colhidos pelas 14 guerreiras que ajudei a armar: honra, dedicação, aplicação, consciência, trabalho em equipe, comprometimento e mais um sem números de outros conceitos que fizeram parte de uma história que ainda vai ser melhor contada aqui no Koluna Torta. Enquanto tudo isso acontecia, a derrota, sem espaço pra entrar em ação, ia se distanciando, de cabeça baixa, abismada com tudo que aquele grupo construiu junto em tão pouco tempo.

    Após esse ato final, quem vos fala aqui hoje é um (ex) treinador com um orgulho que não cabe em si, que veio usar esse espaço para demonstrar toda a sua gratidão àquelas 14 guerreiras que compraram suas idéas e lhe permitiram sonhar!

    OBRIGADO GUERREIRAS DO JIMI pela entrega total e pela confiança incondicional, vocês fizeram toda a diferença nessa história!!!