Histórias de um JIMI - Cena: Cataguases - Ato I

18/05/2010 21:52

       

    A hora havia chegado, era a estréia no tão aguardado JIMI, o caminho percorrido estava vivo na cabeça de cada um dos que se prepararam para as batalhas que estavam a espera e só quem havia deixado suas pegadas impressas na longa estrada que tinha Cataguases como destino é que poderia entender o verdadeiro significado daquela história, só quem ama o esporte que pratica é que entende a importância que esse fenômeno assume.

    Como se já não bastasse todo o clima carregado de uma estréia, como se já não bastasse ter que suportar o peso de todo um trabalho sobre os ombros, o adversário do primeiro jogo em questão seria Cataguases, a dona da casa, equipe que há um ano tinha derrotado Viçosa no JIMI, e que para essa edição do JIMI ainda contava com 3 atletas da cidade de Viçosa, aumentando ainda mais o clima de rivalidade e nervosismo da partida (como se precisasse...).

    Confesso nesse momento, que tal jogo me afligia, na minha cabeça de treinador, eu via traçado um jogo com inúmeras armadilhas psicológicas e cair em uma dessas armadilhas seria fatal mais uma vez, aquele primeiro jogo era fundamental para tudo que foi planejado, e a experiência me dizia em alto e bom tom que aquele jogo seria decidido fundamentalmente na cabeça de cada uma das 14 combatentes.

    Por mais que tentasse (e eu realmente tentei muito), era impossível de se constatar o quão equilibradas psicologicamente estavam cada uma daquelas que formavam minha equipe, o quão equilibrado estava aquele TIME. Se por um lado, olhando para as atletas eu não chegava a conclusão nenhuma sobre o âmbito emocional, por outro lado, os olhos faiscantes de todas não me deixavam dúvidas, aquela equipe já havia decidido triunfar muito antes de entrar em quadra, e como era bom poder ver aquele brilho no olhar presente novamente.

    Assim que o apito inicial foi dado, O Futsal Feminino LUVE/ Via Campus Club foi mostrando a que estava no JIMI, o que se via em quadra era um time disciplinado, coordenado, focado e acima de tudo consciente, com uma proposta de jogo muito bem definida, onde o conjunto e o objetivo se sobrepunham a qualquer vaidade individual. Os espaços em quadra eram fechados com extrema maestria, o sistema defensivo era intransponível, uma barreira foi construída e a muralha viçosense estava edificada naquele terreno, aos poucos o adversários se entregava, vencidos e abatido frente a barreira imposta, e nesses momentos de fraqueza do lado oposto é que oportunamente os contra-ataques se criaram e a LUVE se encontrou com os gols, gols feitos com a cabeça - literalmente -, gols feito com o coração, na raça, na briga, como tudo que foi conquistado por aquele grupo. Os gols e a vitória iminente trouxeram uma motivação diferente para todos, a entrega passou a ser ainda maior e a aplicação tática ainda mais notável, em minha mente de treinador um misto de orgulho e satisfação dominavam todos os outros sentimentos, o que eu estava vendo acontecer em quadra era toda a evolução que imaginei ver desde os primeiros treinos desenvolvidos.

    O fim do jogo foi decretado, a vitória confirmada, mas, naquele momento, entendi o apito final como uma mera formalidade, nós já tinhamos nos declarado vitoriosos desde o primeiro segundo de jogo, a vitória se construiu centímetro a centímetro, jogada a jogada, gota de suor a gota de suor... Estava ali explícito o triunfo da coletividade! Os felizardos da arquibancada presenciaram um jogo de futsal de fato, puderam assitir os feitos de um trabalho em equipe bem realizado, onde cada peça da engrenagem funcionara de maneira perfeita, desde o motor, até o mais simples, mas igualmente fundamental, parafuso de suporte. Depois desse jogo eu não tinha mais dúvidas sobre todo o processo de amadurecimento pelo qual esse time tinha passado, durante o árduo caminho percorrido tinha se formado um TIME, no sentido real da palavra, e esse TIME, depois de tudo que passou, já estava pronto pra vencer, subir ao pódio era questão de tempo.

    O primeiro ato do Futsal Feminino LUVE Via Campus Club no JIMI mostrou a força de um planejamento bem realizado aliado à força de 14 guerreiras aplicadas, dedicadas e acima de tudo obstinadas, incendiadas por um objetivo em comum, a minha confiança e o meu orgulho se igualaram após tudo que vi, me impressionei com a entrega que obtive de cada uma daquelas conscientes combatentes, aprendi na prática que um exército motivado e unido realiza coisas que estão além de qualquer expectativa, desci de qualquer patente superior que pudesse exercer e me curvei aos meus soldados, encantado com o que presenciei não queria ser mais o comandante, minha vontade era vestir o uniforme e ser também mais um soldado pronto para dar minha contribuição para aquela causa, seja essa contribuição qual fosse, o espírito do bom combate tinha sido despertado em mim... A posição ocupada me exigia ser o comandante, mas meu coração, ahhh, esse tinha sido tocado por tudo que ali se passou, e tinha se tornado tão soldado e tão guerreiro quanto de qualquer uma ali...

    E esse era apenas o primeiro ato de uma história que prometia ser longa, a vontade explícita no olhar daquele time era característica daqueles que querem voar sempre mais longe... E vôos mais altos viriam, não restavam mais dúvidas!