Histórias de um JIMI - Cena: Cataguases - Ato II
A estréia e toda a ansiedade por ela trazida já haviam passado... Era o segundo jogo do JIMI, chegando depois de uma grande vitória... O primeiro lugar temporário do grupo já era realidade... Tudo isso somado deveria trazer uma acomodação momentânea ao grupo... Mas não trouxe, FELIZMENTE... Aprendi desde cedo que no mundo competitivo o foco e o clima de tensão são fatores indispensáveis para os que querem vencer!
Para conseguir lançar sua flecha o mais longe possível o arqueiro deve tensionar seu arco ao máximo possível, só assim ele extrairá o seu maior rendimento, entretanto qualquer tensão além dos limites fará o arco se romper e ali se encerrará toda e qualquer expectativa do arqueiro. É assim também no futsal, a tensão em questão perpassa pela vontade de ganhar, pela gana, pela obstinação pelos objetivos traçados, sem deixar que isso tudo se transforme em nervosismo e pressão negativa.
A primeira vitória já era passado, no esporte a cada dia tem que se provar novamente que estamos preparados para a vitória, não há tempo para descanso, quem não quer ter uma batalha nova a cada dia, que não se envolva com o esporte em busca de excelência.
O jogo da rodada era contra Ubá, cidade extremamente tradicional no futsal regional, que contava com um dos treinadores mais experientes da competição, a expectativa era de enfrentar um dos melhores times ali presentes. Tal expectativa se confirmaria já no primeiro tempo, com um futsal muito organizado, usando e abusando de sua goleira-linha, Ubá faz 3 a 1, aproveitando-se de um grauzinho de tensão desnecessário do time LUVE/Via Campus Club.
O intervalo havia chegado e eu já tinha me preparado para dar instruções para um time nervoso e ansioso, que era o que se notava até então em jogos onde estávamos atrás no placar... Quando se aproximaram todas as atletas no entanto, o que notei foram semblantes leves, motivados e prontos para reagir, sem sinal de discussões ou transferências de responsabilidades, estavam todas juntas de fato... Aquele time realmente tinha amadurecido e entendeu a importância de ser um TIME.
O segundo tempo veio como prêmio para um time guerreiro, disciplinado e unido... Com 10 minutos de jogo o placar já mostrava 5 a 3 para Viçosa, e como se o acaso quisesse mais uma vez testar aquele grupo, Ubá encostou no placar, 5 a 4. Mas aqueles torcedores que esperavam um final de jogo emocionante, não o viram... O equilíbrio psicológico fez a diferença e conduzindo o jogo tranquilamente até o último apito a equipe LUVE /Via Campus Club venceu sem contestações seu segundo desafio e estava com méritos classificada com antecedência para a semifinal... Era a redenção de todos aqueles que sobreviveram a todas as batalhas enfrentadas no caminho que levou até aquele momento!
Como treinador eu me sinto privilegiado de ter feito parte desse jogo, de ter dado minha discreta contribuição para que a que história desse time aguerrido fosse ali escrita... O que vi naquela quadra nesse dia vai muito além da vitória em si ou da classificação conquistada para fase final, tais fatores eram irrelevantes perto daquela atuação.
Toda minha satisfação se dava por ver aquela engrenagem funcionando perfeitamente em conjunto, se dava por ver cada peça exercendo sua função a serviço do grupo, e como era bom ver cada uma daquelas que tanto apostei e confiei dando resultados tão expressivos...
Vi a capitã que escolhi assumindo seu papel e exercendo sua liderança - sempre positiva - em todos os momentos onde foi necessário, se doando e entregando àquela causa, muitas vezes até se sacrificando em quadra para dar o exemplo para as demais, aliando garra e vontade à tranqüilidade e experiência... Vi um time que tinha sim alguém como referência, mesmo que alguns não acreditassem que essa referência apareceria de modo decisivo, minha confiança era a mesma, e tal confiança depositada foi recompensada, recompensa a mim e a todos que saíram daquele ginásio encantados com alguém que assumiu sua condição e puxou o jogo para si o tempo todo, que brigou, que lutou, que se equilibrou, que pensou, que se afirmou e provou o que já estava provado há muito tempo... Vi as pivôs formadas serem mais uma vez o ponto de equilíbrio desse time, a novata com experiência de veterana e a veterana com disposição de novata... Vi atleta que me encantou pela dedicação, pelo empenho, pelo comprometimento com todo o trabalho, e sobretudo pela prontidão para batalhar a qualquer momento, em qualquer posição... Vi atletas ignorando os limites impostos pela dor para poderem dar sua contribuição... Vi um banco guerreiro, esperando o chamado para poder ajudar, para poder lutar por aquela camisa, e me surpreendi quando cada uma tinha sua oportunidade de passar pela quadra, e quando essa oportunidade não acontecia, lutava-se do banco mesmo, da forma que fosse possível... Vi uma barreira defensiva ser formada mais uma vez...
Vi um time que se sacrificava por quem estava jogando ao seu lado, que entendeu o potencial individual e coletivo que tinha e que não se dava por vencido hora alguma... Vi um TIME...
O JIMI acabou e aquele time fatalmente um dia irá se desfazer, mas essa história... Ah... Essa história vai estar sempre bem viva nas memórias de cada um...