A estrela solitária está altiva! Sua flâmula a tremular no altar do mais charmoso espaço futebolístico do país.
E quem não está feliz com a glória do Botafogo? Além de levar ao solo um dos clubes mais antipáticos do planeta, conquistou de forma heróica, histórica e mitológica seu 19º título estadual. Com certeza nem mesmo Mauricio, algoz de um dos momentos mais marcantes da história do campeonato carioca acreditasse em tamanha façanha depois da "traulitada" imposta pelos navegantes de São Januário. A técnica não é de fato aliada do esquadrão da Estrela que hoje não está solitária, e os mesmos mostraram que não é só a técnica aprimorada, o malabarismo envolvente que é capaz de vencer nesse coletivo. O respeito, a dedicação, o auto-conhecimento, a entrega, a confiança, todos são ingredientes para os vitoriosos.
Hoje saúdo o Botafoguense que já é saudoso por ser Botafoguense, de um malabarista incomparável, que se acostumou a ver esse malabarista cambalear homo sapiens qualquer e não perdeu o amor pelo Botafogo que a muito não possui os malabares, não possui a graciosidade de tempos anteriores. Não há como comparar Garrincha, Nilton Santos, Zagallo (que era bem limitado), com Lucio Flavio, Alessandro, Sómalia.
E a esse torcedor que vejo aqui sempre próximo, que engole de flamenguistas a muito tempo, brincadeiras e provocações, topadas e insinuações, e tem que ficar calado, ou aceitar de bom humor o que seu clube de coração lhe faz ouvir. Homem esse que ao invés de abaixar a cabeça se põe a sorrir ou esbravejar contra o "juíz" ou o(a) "bandeirinha" ou a um qualquer perneta que insistem em colocar no seu time tentando tirar o foco da derrota que já parece inacreditável. E de novo, e de novo, por três anos seguidos.
Hoje é estimulante o vendo se esbaldar em euforia, e colocar pra fora toda a agonia que o mesmo passara. Provocar, zombar, insinuar e buscar seu torcedor arqui-rival dentro de casa para que ele possa ouvir a sua felicidade. Nesse momento que a alegria dele me contagia. Como o sorriso no rosto do flamenguista antes chateado, parece dividir a alegria com seu até então adversário . Mesmo com o seu descontentamento, com toda a chateação da derrota ele ainda sorri. Entendo agora que não pelo seu clube, mas pela alegria do amigo, que por escolha bate o coração por outro que não o seu, mas acima disso está o respeito, o carinho de uma amizade que vai perdurar ao longo dos tempos.